segunda-feira, 6 de setembro de 2010


Porque que a gente acampa?

Você sai da sua casa com uma mochila contendo o mundo, passa no mercado e compra mais um mundo de besteiras que vão virar farelo em questão de segundos e uma barraca velha que ainda tem areia do último acampamento.

Chega num lugar estranho, cheio de pessoas estranhas, todo suado e cansado e procura o melhor lugar.

-Embaixo da árvore! Assim temos sombra!

Vai chover e todos os frutos da árvore vão cair em cima da sua barraca. Se você der sorte de não chover, os morcegos se encarregam de derrubar os mesmos.

-Longe da árvore!

Vai fazer um sol tão quente que você não vai conseguir dormir, todos os seus mantimentos vão estragar e você vai estar sempre fedendo.

-Ali tem uma parte coberta. É minha!!

Lá tem com certeza um formigueiro que você só vai notar quando for noite e já vai ter passado 7 horas arrumando tudo direitinho.


Você escolhe o lugar menos pior, abre o saco da barraca e começa a montar. Nota que faltam peças e você se ferrou, ou tem buracos (que você só vai notar quando começar a chover e você acordar, olhar para o lado e se deparar com uma corrida de siris), ou tá com aquele cheiro de cachorro molhado porque você ficou com preguiça de lavar a última vez, ou tudo isso junto.


Mas você, guerreiro, não se deixa abater. Arruma uns barbantes e umas conchinhas, faz umas gambiarras e monta seu lar temporário. Guarda todas as suas coisas de forma adequada, conta 36 coisas que você esqueceu de levar (incluindo itens importantes tipo escova de dentes e sabonete), resmunga um pouco e pensa:

-Vou me deitar um pouco pra descansar. Assim eu penso melhor!

Estica sua incrível coluna de Joselito já pensando que esse é seu último acampamento na vida e nota... Uma raiz de um quilômetro de altura e três de comprimento bem embaixo da sua barraca! Você solta um palavrão bem alto, seus amigos riem mas você, ainda otimista, pensa que se dormir na diagonal com a perna esquerda suavemente flexionada e a orelha direita tocando o sol da pra dormir. Como se você fosse lembrar disso quando chegar bêbado e se arremessar cheio de areia lá pra dentro.


Até agora tá sol, mas o tempo não está firme. Vai chover! A noite! Pra caralho! E ventar! E entrar uma nuvem com 352 borrachudos malditos na sua barraca! E você não pode sair ou vira um boneco de neve... Mas tudo bem.


Depois de tudo isso você toma um porre pra esquecer. Ri alto até perceber que seu vizinho de barraca tem um filho escroto que chora mais alto que seu riso. E pensa que ele vai chorar a noite toda. E você tem razão.


Acorda de manhã cozinhando dentro da barraca, sente a boca crocante e não lembra bem o que aconteceu depois do menino chorar. olha em volta e sente vontade de vomitar.

Se junta aos amigos pra tomar o café da manhã. Farelos de club social com tang quente. Mas você não liga porque está morrendo de fome pois nem lembra a última vez que comeu.

Assim que todas as meninas tem a postos seus biquinis e protetores solares, o tempo vira faz um frio glacial.

Todos se agasalham e vão dar uma volta pelo lugar, fazer novos amigos que não vão durar mais que o tempo de viajem, provavelmente uns 2 ou 3 que vão ficar muito loucos e vomitar perto de você (na melhor das hipóteses) e alguém do sexo oposto que vai te interessar. Mas você não vai pegar!


Vai dormir bêbado de novo, acordar malz de novo, ter um dia de bunda velha de novo, até o dia da partida.


Na última noite você bebe mais que todo mundo junto. E olha que todo mundo é muita gente. Acorda muito na merda, procura a câmera fotográfica pra ver se começa a se lembrar o que fez e não acha. Começa a arrumar tudo na esperança de achar mas não acha, e pensa que só se fodeu até agora e num tem uma foto pra mostrar. Joga a barraca na sacola de qualquer jeito, e sabe que não vai lavar quando chegar em casa. Pega todas as suas coisas "a milanesa", enfia na mochila. Mas só o que cabe, porque com certeza você vai precisar de sacolas pra levar algumas coisas que você não se lembra de como trouxe, e tudo que você achou que não tinha trazido (como o repelente). Olha para o céu e o dia ta lindo. Entra no carro, e pensa ver uma praia dentro dele. É tanta areia e cheiro de cigarro que você tem vontade de jogá-lo fora e comprar outro.

Já na estrada, com o sol sobre sua cabeça, começa o trânsito. Trafego intenso, diminuindo a velocidade até que pára. Você tem vontade de cortar os pulsos ali, bem no acostamento, por onde você quer passar mais não passa por achar que está muito zicado e que vai se ferrar. Faz em 10 uma viajem que deveria demorar 2 horas, faz xixi num saquinho de fandangos e é obrigado a esperar seu amigo enquanto ele caga no mato (literalmente) porque ele ta com dor de barriga por causa da água do lugar e com gases, e provavelmente no mesmo carro que você, mas ta dando pra segurar porque os vidros estão abertos. Até que chove...


Você chega em casa morto, louco por um banho, uma cama e uma televisão, arremessa suas coisas cheias de areia no chão e pensa:

-Porque que a gente acampa?

PORQUE ACAMPAR É FODA!!

Você ri demais, aprende demais, conhece gente demais, zoa demais e chega com um monte de história pra contar e rir.


Acabei de chegar de Camburi. Num vejo a hora de voltar a acampar

=]