segunda-feira, 21 de junho de 2010


Ela chega de mansinho com um sorriso no rosto. Beija todo mundo e senta no chão da sala. Começa a se aquecer fazendo graça, fazendo piada.
Quando levanta pra dançar seus olhos brilham. Se concentra e quando erra faz careta. Repara nas falhas dos outros, no tempo da música. Usa termos técnicos e sempre tem uma convicção de quem tem certeza do que está falando.
No intervalo, senta sozinha num canto. Acende um cigarro e divaga. Como se os problemas sempre deixados fora da sala, naquele momento voltassem a perturbar.
Terminando seu cigarro se levanta. Se sacode e passa as mãos nos cabelos tentando voltar para o clima bom que um dia de ensaio traz. Bate palmas chamando atenção e lembrando aos outros a que veio:
-Vamos trabalhar?
Entra na sala, se espreguiça na barra, estala o pescoço e liga o som. Dança até alcançar a exaustão.
Brinca e tira sarro, ri de tudo como se aquele fosse seu mundo e nada o pudesse invadir.
Ensaio chegando ao fim, insiste em passar mais uma vez. Desliga o som e se liga ao mundo. Calça seu tênis, acende um cigarro, que é seu portal para a realidade, e some na escuridão.

Uma tarde de ensaio