domingo, 27 de junho de 2010




Pra onde vai toda tampa de caneta
Todo recibo de estacionamento
Todo documento original
Isqueiro, caderneta
A camiseta com aquele sinal
Pra onde vai toda palheta
Pra onde foi todo o nosso carnaval

Pra onde vai todo abridor de lata
Toda carteira de habilitação
Recado não dado, centavo, cadeado
Todo guarda chuva pra fuga pro temporal
Pra onde vai o achado, perdido
Eu não sei, veja bem
Não me leve a mal

Pra onde vai todo outro pé de meia
Carteira, brinco, aparelho dental
Pra onde vai toda diadema, recibo, receita
E nosso enredo inicial
Pra onde vai toalha de acampamento
Presilha, grampo, batom de cacau
Elástico de cabelo, lapis, óculos, clips, lente de contato
A nossa má memória
A denúncia no jornal
Pra onde vai aliança, chaveiro, chave, chinelo e o controle pra trocar canal

Pra onde vai o solo que não foi escrito
Labareda nesse labirinto
Um estinto, reflexo sem seguro
O coro do socorro
Lançamento oficial
Pra onde vai a culpa da cópia
Pra onde foi a versão original

Pra onde vai a bala que se disparou
O indício do vício que disseminou
A busca do corpo por algo vital
A firmação do pulso
O discurso radical
O troco em moeda, a lição da queda
Pra onde foi nosso humor imoral

Pra onde vai todo o nosso desalento
Morre brisa, nasce vendaval
Pra onde vai a reza vencida pelo sono
Ela vale? Me fale, me de um sinal

São Longuinho
Me fale, me de um sinal

Pra onde foi o canhoto
O beijamim de tomada
Simpleza, prudência, clareza, concideração
Autenticidade, compaixão, certeza, o coro, o perdão
A urgência, carregador e bateria, o extrato, a ponta
A conta nova, a cola e a extensão
O estímulo, o exemplo, a voz dissonante
A coragem do meu coração?

O que se perde enquanto os olhos piscam, Fernando Anitelli.